“Ao vencido, ódio ou compaixão;
ao vencedor, as batatas.”
Machado de Assis
ao vencedor, as batatas.”
Machado de Assis
Com uma vida social agitada e uns olhos sempre saltando daquelas cavidades inóspitas de seu rosto, o nosso protagonista não tinha do que reclamar. Saiba o leitor da cortesia dos colegas de trabalho, que entre outras coisas resultava na tal vida social badalada; além da ambição tão adversa à calmaria dos olhos.
Agitações à parte, que se destaque a competência. Sim, nosso protagonista estudara muito. Batalhara. Lera. Correra atrás. E chegara aonde chegou. Chegará, ao menos. Sempre proferindo, no plural, a primeira pessoa de que tanto gostava:
– Somos demais!
Detestava a moda, coitado. Seguia, claro. As diretrizes de bom funcionário vinham em primeiro lugar. Mas nunca se contentava em repetir os usos e desusos da maioria besta de bestas da Terra. Tinha um estilo próprio. Reservado aos fins de semana privados, na casa de praia. Primoroso estilo conhecido apenas pela esposa e pelo casal de filhos.
E apesar da popularidade supracitada, caro leitor, ele adorava a desgraça alheia. Não por prazer de ver os outros sofrendo, mas por saber que isso influenciaria diretamente as suas chances de se dar bem. Próximo ao próximo, era um caridoso amigo, sempre disposto a consolar. Longe do próximo, sorria e calculava possibilidades. Ao vencedor, afinal, as batatas! Sempre fora assim, antes mesmo de Darwin.
Tivesse se mantido apenas no campo da apreciação, que fosse. Mas a coisa toda se exteriorizou. Ao alheio havia sido destinada tanta graça, que isso implicaria certamente a desgraça de nosso protagonista. Como proferiria, no plural, a pessoa de que tanto gostava? Como seria, no mural, a primeira pessoa que almejava? O mais querido dos funcionários? Coisa de empresa. Precisaria adequar o meio a ele.
– Lembra daquele problema que estávamos enfrentado, cheiro? O do mural? – perguntou à esposa.
A mulher estremeceu. Da última vez que tocara no assunto, o marido prometera resolvê-lo. Seguiria uma teoria simples: a eliminação dos menos adaptados. Seleção artificial, ou algo parecido. Mesmo que a pressão seletiva não fosse das habituais.
– Você não...?
– Sim, fizemos. – respondeu, convicto, em sua pluralidade.
– Não brinque com uma coisa séria dessas! – apavorou-se a mulher.
– Nós não estamos brincando – proferiram calmamente.
Não brincavam jamais.
Agitações à parte, que se destaque a competência. Sim, nosso protagonista estudara muito. Batalhara. Lera. Correra atrás. E chegara aonde chegou. Chegará, ao menos. Sempre proferindo, no plural, a primeira pessoa de que tanto gostava:
– Somos demais!
Detestava a moda, coitado. Seguia, claro. As diretrizes de bom funcionário vinham em primeiro lugar. Mas nunca se contentava em repetir os usos e desusos da maioria besta de bestas da Terra. Tinha um estilo próprio. Reservado aos fins de semana privados, na casa de praia. Primoroso estilo conhecido apenas pela esposa e pelo casal de filhos.
E apesar da popularidade supracitada, caro leitor, ele adorava a desgraça alheia. Não por prazer de ver os outros sofrendo, mas por saber que isso influenciaria diretamente as suas chances de se dar bem. Próximo ao próximo, era um caridoso amigo, sempre disposto a consolar. Longe do próximo, sorria e calculava possibilidades. Ao vencedor, afinal, as batatas! Sempre fora assim, antes mesmo de Darwin.
Tivesse se mantido apenas no campo da apreciação, que fosse. Mas a coisa toda se exteriorizou. Ao alheio havia sido destinada tanta graça, que isso implicaria certamente a desgraça de nosso protagonista. Como proferiria, no plural, a pessoa de que tanto gostava? Como seria, no mural, a primeira pessoa que almejava? O mais querido dos funcionários? Coisa de empresa. Precisaria adequar o meio a ele.
– Lembra daquele problema que estávamos enfrentado, cheiro? O do mural? – perguntou à esposa.
A mulher estremeceu. Da última vez que tocara no assunto, o marido prometera resolvê-lo. Seguiria uma teoria simples: a eliminação dos menos adaptados. Seleção artificial, ou algo parecido. Mesmo que a pressão seletiva não fosse das habituais.
– Você não...?
– Sim, fizemos. – respondeu, convicto, em sua pluralidade.
– Não brinque com uma coisa séria dessas! – apavorou-se a mulher.
– Nós não estamos brincando – proferiram calmamente.
Não brincavam jamais.
10 comentários:
Mais uma vez, 'gostamos'... Continue assim Vinícius. Você vai longe...
Cara, eu não acredito... É impressão minha ou o tal aí do texto simplesmente...?
Vinícius, você conhece aquele filme do Costa-Gravas, "O Corte"? Me lembrou muito. Se não, fica a indicação...
Abração!
Vinícius vc sempre me surpreende esta sempre melhor a cada dia, um ser talentoso,um talento raro. Como vc esta?bj
Infelizmente essa busca incessante por superioridade é mais comum do que pensamos. A vitória conseguida com o empenho na desgraça alheia é mais atraente? Ou mais fácil?
Decerto bem mais medíocre e mesquinha!
Sim, mais um de seus magníficos textos!
Abraço Vinícius.
Vinícius,
gostei muito do tom de ironia sutil no texto. Engraçado isso do plural. É como se o protagonista endetesse suas posições como coletivas, altamente necessárias. Na verdade, não passa de um pensamento egoísta que esbarra no próprio umbigo. Isso dele ser contraditório também me chamou a atenção. Tratar bem, mas desejar a desgraça alheia porque esta, de alguma forma, aproxima a graça pra perto de si (ou ao menos aumenta as possibilidades). Parece maldade, isso. Mas acontece. Comigo, com você, com todos, eu acho. E mais um ponto pro egoísmo que não dá conta de ver os outros bem.
Eu diria que sua crônica esbanjou crítica. E talento, claro. Isso vale constatar.
Abraço!
Sabe, perco a linha quando te leio. Leio teus textos sempre mais de uma vez, e os encontro tão bem terminados, que comentários parecem pequenos demais, pra soar coerente em meio a tamanha boa escrita. Crítica. Sensatez. Propósitos. [Ou não].
Nesse, em especial, vi um personagem esquizofrênico. Além da problematização toda, o final deixou isso bem claro, pra mim. As vozes. O plural. E eu quis que todo mundo lesse esse texto, pra absorver as interpretações diversas.
Ah, Vinícius, calo a boca. E você, vai escrever!
Beeeeeeeijo.
[Avôhai].
Estou acompanhando seu Blog! (:
Em relação ao post, "ele" busca ser coerente e superior, mas acaba sendo egoísta/insatisfatório, foi o que entendi. Bjs, e esta ótimo aqui.
BOm gostei do blog e quero voltar de novo para ver novidades. Vc escreeve muito bem. Cabeça muito legal mesmo
abraço do novo seguidor...
Jason
Simplesmente muito bom seu texto. Um texto com uma linguagem mais sofisticada e ao mesmo tempo simples e instigante, li todo o texto querendo antecipar o final!
Mais uma vez, está de parabéns!
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