O copo caiu. Espatifou-se em incontáveis pedaços e inutilizou o precioso líquido que a fizera suportar tudo aquilo. Seu corpo espalhava-se pelo sofá demasiadamente grande, confortável, elegante e caro. O vestido de festa restringia sua exuberância impactante aos móveis da casa e aos retratos dos antepassados. E o copo caíra devido à súbita fraqueza que sentira nas mãos. Faltava alimento – do almoço e da alma.
O rádio cantava músicas calmas, na voz de um roqueiro que abandonara a revolução. Ao invés de debater as ideologias, agora repassava lições de vida. “Em breve não serás mais o que és.”
O telefone tocou. Não iria atender. Chegara a tomar banho, colocou o vestido, o perfume e a máscara, mas aquele era o seu limite. Agora, não podia nem mais atender ao telefone e inventar uma desculpa qualquer. Não podia sequer falar. Estava de mãos atadas. Eis a ditadura da alma.
E a chuva caía, lá fora. A janela estava aberta e a cama se molharia. Mas não podia levantar. Estava imobilizada. Seu banheiro estava imundo. A pia da cozinha já abrigava uma vasta fauna. E os alimentos se perderam. Tudo ali exalava perdição, desrespeito.
Sentia dores por todo o corpo. Das mãos à cabeça. Ansiava há muito por um banho quente e a liberdade de correr entre as árvores, sob a chuva. Mas não podia se levantar.
Havia sede. E havia um copo com água na mesa, próximo à porta, quase caindo. Mas não podia se levantar. Era a sede, a tortura, a ditadura, a sede, a alma, o alimento, a água, a chuva, o rádio, a confusão.
“Vai reduzir as ilusões a pó. Presta atenção, querida: de cada amor, tu herdarás só o cinismo. Quando notares estás à beira do abismo. Abismo que cavastes com teus pés.”
De repente, a umidade da chuva invadiu o ambiente. A porta se abriu. Ele chegou. Sem querer, o ditador esbarrou na mesa. E o copo caiu.
O rádio cantava músicas calmas, na voz de um roqueiro que abandonara a revolução. Ao invés de debater as ideologias, agora repassava lições de vida. “Em breve não serás mais o que és.”
O telefone tocou. Não iria atender. Chegara a tomar banho, colocou o vestido, o perfume e a máscara, mas aquele era o seu limite. Agora, não podia nem mais atender ao telefone e inventar uma desculpa qualquer. Não podia sequer falar. Estava de mãos atadas. Eis a ditadura da alma.
E a chuva caía, lá fora. A janela estava aberta e a cama se molharia. Mas não podia levantar. Estava imobilizada. Seu banheiro estava imundo. A pia da cozinha já abrigava uma vasta fauna. E os alimentos se perderam. Tudo ali exalava perdição, desrespeito.
Sentia dores por todo o corpo. Das mãos à cabeça. Ansiava há muito por um banho quente e a liberdade de correr entre as árvores, sob a chuva. Mas não podia se levantar.
Havia sede. E havia um copo com água na mesa, próximo à porta, quase caindo. Mas não podia se levantar. Era a sede, a tortura, a ditadura, a sede, a alma, o alimento, a água, a chuva, o rádio, a confusão.
“Vai reduzir as ilusões a pó. Presta atenção, querida: de cada amor, tu herdarás só o cinismo. Quando notares estás à beira do abismo. Abismo que cavastes com teus pés.”
De repente, a umidade da chuva invadiu o ambiente. A porta se abriu. Ele chegou. Sem querer, o ditador esbarrou na mesa. E o copo caiu.
Um comentário:
Eu sempre faço um ótimo exercício com a imaginação aqui no blog. É admirável a riqueza de deatalhes que você traz em situações minúsculas, mas que na nossa mente se desdobram. É possível sentir a chuva vindo neste relato. A fraqueza do personagem, por um breve instante, me atinge.
Eu fiquei imóvel com esse relato...
Obs.: comentei o que vc falou lá no blog!
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