domingo, 10 de outubro de 2010

O artifício dos parênteses (II)

Leia o início dessa história aqui.

(...)

– Quem chora?

– Nietzsche chorou.

– Kant é quem devia ter chorado.

– Dever, todos nós devemos.

– Mas nem todos choram.

– E nem todos amam.

– E nem todos vivem.

– E nem todos.

– E nem nós.

Eis que o interrogatório passava por sucessivos estágios. Das perguntas e respostas ao diálogo de igual para igual, culminando com a irrevogável confusão entre aqueles que dialogavam. Quem era quem? Sempre fora assim? Sempre foram dois? Ou eram um?

Toda a realidade era composta de monólogos interiores (disfarçados de diálogos) que só se interrompiam pela voz da amada. Ambos tinham sua atenção: tanto a parte de si que tão bem conhecia aquela mulher, quanto a parte que parecia desconhecer.

– E então, já se encontrou? – perguntava a voz sensual, tão (des)conhecida.

– Uma vez, me encontrei bêbado. E pelado, e sem dinheiro.

E riram. Porque, às vezes, as crises existenciais podem ser engraçadas. A alternativa mais viável acaba sendo rir. Eis o verdadeiro sitcom: a comédia da vida.

(...)

Leia o final dessa história aqui.

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