domingo, 8 de março de 2009

Motor orgânico

Ao simples toque em minha pele, sinto cócegas, erijo os pelos e relembro um turbilhão de vidas passadas. Meus olhos me permitem ver um mundo de cores fugidas, mas não menos bonitas que as dóceis. Meu olfato sente os agradáveis e mortais aromas benzênicos. Minha boca sente o gosto teu. De muito tempo atrás. E eu ouço as sombras caminhando sobre as águas.

Numa calma água de um lago
Nasci de alma n’água que trago
Orgânico composto feito alifático
Sem pânico posto meio aromático

E o peito asmático. Desde que a vida ainda não tinha vindo viver. E mesmo agora que veio, é como se não tivesse vindo. Meus sentidos me enganam e por isso mesmo são meus mais fiéis amigos. As sombras não tanto, pois só as vejo. Meus sentidos vão além.

Além de baixo de cima do além
Alguém há de ser não ser ninguém
Há de ver meu riso meu pranto meu
A ser o meu um momento único seu

Eu que tinha mais e mais cadeias carbônicas, hoje sou inorgânico. Um ácido, uma base, um sal. De maneira alguma óxido. Estou ao dispor das reações. Só não tente prever por equações fúteis que desconsideram a resistência do ar e os demais fatores práticos. Aqui, eles contam muito.

Um, dois, três, quatro, três, dois, um
Algum está vivo, mas vivo não está algum
Três, doze, cinco, seis, vinte, quatro, três.
Vocês sabem o que é e não sabem de vocês.

Sete mil setecentos e setenta e sete: é a sua vez. Levante os braços ao alto, marche para a direita. Armas à esquerda. Agora o chefe sou eu. Esqueça seu nome. Sentido! Esqueça sua vida. Sim senhor! Deite e role no chão. E vá para a fila dos cheques. Agora, você é só um número.

13 comentários:

Anônimo disse...

oi vinicius.
o proximo nobel é seu!
shaduiasuihasuihdauishdi
-qqq

Marcelo A. disse...

"Agora você é um número..."

É auto-biográfico isso?!? Porque chega uma hora em que a gente realmente vira um mero número... Rsrsrs!

Não precisa agradecer minhas palavras. Tudo o que escrevi ali é verdade, pode crer. Em relação ao Raduan... Que tal "Lavoura Arcaica?" Já viu o filme com o Selton Mello? Mas se quiser algo menor pra começar, achei esse conto dele: http://www.releituras.com/rnassar_menu.asp

Lê e depois diz o que achou... Se bem que hoje, te achei mais pra Augusto dos Anjos... Rsrsrs!

Abração e uma grande semana!

A Torre Mágica | Pedro Antônio de Oliveira disse...

Oi, Vinícius!

Os novos caminhos sempre despertam na gente um grande medo. Porém, quase sempre, eles nos reservam grandes tesouros. Por isso é tão importante se arriscar em prol daquele sonho ou daquele desejo de mudança. Não é nada fácil, mas também...

Vá em frente! Abra a porta e deixe os sonhos passarem.

Excelente texto, como sempre! Inteligente e maduro.

Um abração forte.

Apareça sempre. Até!

Pedro Antônio - A TORRE MÁGICA - www.atorremagica.blogspot.com

Unknown disse...

Vc me fez pensar que daqui alguns anos vamos usar plaquinhas numeradas e não mais nomes e sobrenomes,mas nessa equação ,vamos tentar balancear as bases,os ácidos e esquecer esse O2 que qualifica um óxido,multiplicando radicais,somando os numeradores,para assim chegar a um equlibrio,parabéns,você escreve muito bem=)

Bismarck Bório disse...

Vinicius! vc está servindo ao exércitO?uhsuahsauhs

Me pareceu meio óbvio!^^

De inicio uma vida sensacional(proveniente das sensações),em outra a máquina Humana! ShoW!

E incrivel a mescla de conto e verso! (Y)

Lucas disse...

Faço minhas as palavras do Bismarck (Bório).

Você está servindo o exército? O.ó

E incrível a mescla de conto e verso!
_

É absurda a repugnância com que tratam os novatos no exército. São números e mão-de-obra, nada mais.

Eu sobrei, e não entendo isso como ofensa, de forma alguma. Abri um sorriso quando soube. :D


Seus textos sempre incríveis!

Abraço Vinícius.

Professora Lara disse...

Vinicius, cheguei no seu blog pelo blog da Torre mágica e gostei de passar por aqui... Parabéns pelos textos!
Um abraço,
Lara

Professora Lara disse...

Vinicius, cheguei no seu blog pelo blog da Torre mágica e gostei de passar por aqui... Parabéns pelos textos!
Um abraço,
Lara

Professora Lara disse...

Vinicius, cheguei no seu blog pelo blog da Torre mágica e gostei de passar por aqui... Parabéns pelos textos!
Um abraço,
Lara

Xubis D. disse...

Uau! Nem deu tempo de dar oi. hehe,
AMEI o texto. Nossa, você escreve cada vez melhor!
Esse texto me lembrou uma peça de teatro que vi ano passado, do 1º grupo do meu colégio (estou no 2º grupo, o dos alunos mais novos, Mas é por escolha.).
A peça falava disso, desse tema.

Muito bom. Mesmo.

Falando no teatro, foi ele que me fez perder a timidez. Hoje eu faço uma prostituta ou um espanhol ciumento na frente das pessoas sem nem ligar. hehe
E eu também gosto de Supertramp mais pelas letras...Minhas favoritas são 'Dreamer1 e, a que voc~e citou, 'The Logical Song'.

E você merece a minha comparação com o clássico Joaquim Maria Machado de Assis. Voc~e é muito bom, seus livros serão ótimos!

beijos da Lu Paes!

Jaya Magalhães disse...

Oi, posso entrar?
:D

Que eu tô com vergonha de nunca mais ter passado aqui, sabe? E peço que você entenda. Sei que você entende. É que às vezes fico pensando que teus textos são tão bem acabados, que qualquer comentário poderia soar incoerente em meio à métrica bem desenhada que você expõe. [Outras vezes, é pura preguiça minha de deixar rastros].

Porém, aqui, hoje, a não-linearidade me caiu bem. Como eu disse, assim que li pela primeira vez, teu texto tem uma cara de tudo que eu nunca vi. E o engraçado, Vinícius, é que, ao mesmo tempo, mistura muito de mim, nas tuas letras. De nós, por assim dizer. De literaturas, químicas, biologias, matemáticas. [É realmente um texto produzido por alguém que se prepara para o vestibular]. E ao mesmo tempo, tua escrita tem uma maturidade absurda.

Deixo meus aplausos. E agora volto sempre. [Mesmo que, ainda em silêncio, tudo aqui tenha passado aos meus olhos].

Beijos, chatíssimo.

Jamile Gonçalves disse...

Agora somos todos nós apenas um nº... Me fez uma lembrar uma crônica que li certa vez, a qual não me recordo o nome, mas é bastante reflexiva! Somos nomes, números, rótulos... Mas nós somos nós?

Anônimo disse...

Eu gostei muito deste! Muito bom!

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