sábado, 28 de março de 2009

Ao vento, com amor.

“João amava Teresa, que amava Raimundo,
que amava Maria, que amava Joaquim,
que amava Lili, que não amava ninguém.”
Carlos Drummond de Andrade

Cortava o vento, não em sua velocidade, mas em seu simples movimento. É que tinha o hábito de respeitar as leis da Física. Mesmo que nem sempre respeitasse as outras. Estas, afinal, eram as suas favoritas.

A água da chuva de outrora, por sua vez, deixava tudo mais bonito. Realçava as cores. Tornava-as mais fortes, mais visíveis. A rua mais azul, o capim mais verde, o céu mais branco, a água mais molhada. Até o trilho do trem brilhava mais que o usual.

À margem direita – não do rio, mas da rua – uma fumaça azul-escura se espalhava próxima ao capim molhado. Queimada excêntrica, de certo. Ou um homem excêntrico dando fim a qualquer coisa que o comprometesse – quem sabe fossem ilusões.

Metros à frente daquela combustão, o ar se livrava do aroma carbônico e se tornava puro. Tão puro quanto os pensamentos do motorista. Sim, cortava o vento, não em sua velocidade, mas em sua bicicleta. Amarela, com detalhes em preto. Linda de morrer. E de correr. E de voar.

E, realmente, os pensamentos eram puros. Pensava em amar, em amei, em amasse, em amor. Várias as pessoas, os números e os tempos. Do pretérito ao futuro. Subjuntivo que fosse. Mas nunca intransitivo.

Pensou em quando confundiu as conjugações. Aí, deu forma nominal. Ele particípio, mas ela não. Ele jurou pelo infinitivo, ela nada. Ela só pensava em Gerúndio. E talvez, até ele pensasse errado.

Contudo, ao cortar o vento, não em sua velocidade, mas em sua confusão, pensava novamente em amor. Superado aquele outro, que talvez nem tivesse sido, indagava novas possibilidades. Distantes, como fora as outras. E ainda mais cautelosas.

Enfim, cortou o vento, não em sua completa compreensão, mas em sua atemporal esperança de conjugar o verbo amar.

11 comentários:

Marcelo A. disse...

Cara, eu viajei na maionese nesse seu texto! Coisas que talvez não tenham nada a ver com o que você quis expressar, mas que me ocorreram...

Evidente que a primeira de todas foi o nome do Mário de Andrade! E depois, o do Machado (Amar, Verbo Intransitivo é muito Machado!Rsrsrs!) e do quanto você gosta do cara (ou será sensação minha?)...

De resto, eu acho que tô assim, meio perdido nos tempos, nas conjugações e terminações... Fazer o quê? Um dia, eu aprendo a conjugar direitinho... Rsrsrs!

Bom domingo pra você!

Lucas disse...

Lindo!

A cada texto me encanto mais.
_

O amor que passa como vento em seus diversos significados e explicações pelos corações que amam.

A busca incessante em sentir o amor puro como é dito e descrito - por aqueles que nunca o sentiram.

O ser humano, o amor e o vento são sublimes. Podem ter diversas faces.

Digo novamente, Lindo!


Abraço Vinícius.

Lucas disse...

"Ou um homem excêntrico dando fim a qualquer coisa que o comprometesse – quem sabe fossem ilusões."

Tão perfeito que precisei citar.

~*~ Ágatha ~*~ disse...

Eu sabiaa...

O amor não é verbo, é muito mais completo que isto.
Eu disse isto ontem...kkkkk

Muitoo bom mocinho =D
Amei,amo e vou amar e vc tbm vai
hahahhahuahahau
Espero que me entenda ;)

Bjinhoss

niki disse...

maravilhoso!
acreditemos todos no amor :)

Ademerson Novais disse...

Ufhh!!!!!como mexes com as palavras de um jeito circular..não dando voltas..mais fazendo que a gente os dê..tropece...caia..volte a levantar..para assim somente assim pegar o jeito..e ver o que nos derrubou.... e entender que aquilo faz parte da gente....dito de forma simbolica, não numa bandeja..mais em pedaços...em varios pratos que assim vamos saboreando...vc escreve com um jeito de pessoa que não só coloca sentimentos..mais de um estilo que usa o coloquial entre vc....a escrita e a pessoa que os lê...

Parabens pelas palavras
Ademerson Novais de Andrade


Espero que um dia visite meu blog

Michel Domenech disse...

Muito bom o texto. Achei excelentes os jogos de palavras que fizesse no final, com as o infinitivo, gerúndio e demais formas verbais, realmente ficou ótimo.

O amor é presente, passado e futuro, estará sempre em nossa vida, embora queiramos ou não, como naquele poema "Canção do amor imprevisto", de Mário Quintana, onde ele diz no final "a súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil aonde viessem pousar os passarinhos", pois é uma verdade inquestionável, o ser mais adverso ao amor não estará imune às satisfações deste oriundas quando, sem mais nem menos, ele resolver surgir.

A Torre Mágica | Pedro Antônio de Oliveira disse...

Impressionante. O texto é lindo e tudo o que foi dito aqui também!

Esquenta não! Também ando na maior correria. É assim mesmo!

Gostei demais do que você escreveu!

Muito obrigado! De verdade. E, quando der, apareça!

Abração.

Pedro Antônio - A TORRE MÁGICA - www.atorremagica.blogspot.com

mano maya kosha disse...

não, não se tem nem muito o que comentar, as vezes a gente só abstrai e respira, tentando continuar, não tenho caminho novo, o que tenho de novo, é o jeito de caminhar ...

Marcelo A. disse...

Fala, Vinícius!

Cara, eu sei que você não curte muito esse negócio de repassar selos, mas mesmo assim eu te indiquei pra alguns, lá no blog... Dá uma passada, pega e guarda pra sua coleção!

Abração!

Equilibrista disse...

É o tipo de texto que preciso ler umas três vezes para chegar a uma conclusão ainda que confusa.
Quanta intensidade num simples andar de bicicleta, para cada vento um significado, para cada direção um amor, um amado, um amante, não sei... Uma "água mais molhada" que a outra.

Perfeito.

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